Me perguntaram como alguém pode ser “acidentalmente convertido” ao budismo. Senta aí que lá vem história.
Estava eu andando na rua de boa e pans, sendo um turista comum. Um casal de velhinhos se aproxima. Super simpáticos, começam a me fazer perguntas: de onde sou, pra onde vou, se o Zico é famoso no Brasil, etc etc.
Papo vai papo vem, lá pelas tantas, viram e dizem:
- Nós pertencemos a uma seita. Você quer conhecer nosso templo?
Isso foi meio inesperado. Mas a verdade é que tava quente pra caceta ficar parado ali no meio da rua.
- Po tô fazendo nada mermo... vamo nessa.
Corta pro templo. O lugar até que era bem bonitinho: um típico jardim japonês do lado de fora; dentro, tatames e portas deslizantes. O altar principal, preto com detalhes em ouro, era ao mesmo tempo suntuoso e minimalista. Três lustres dourados pendiam do teto; num canto, um tambor cerimonial. Havia também uma sala oculta de orações, à qual eu tive acesso graças à posição dos meus novos amigos na hierarquia do templo.
Em um dado momento, eles resolveram me ensinar a doutrina. Bom, o inglês deles era bem ruim então eu entendi tipo 5%, mas o crucial é que tem um mantra principal, que deve ser repetido sempre:
“Água, fogo, terra, ar, abismo”
Sim, isso mesmo: ABISMO. É basicamente o que você fala pra invocar o Capitão Planeta, só que os caras são mais trágicos e trocaram “coração” por “abismo”.
Palavras aprendidas, eles vieram com a bomba.
- Você quer participar de uma cerimônia?
- Uai... POR QUE NÃO?
Lá fomos nós então, sentou um monge e começou a recitar umas paradas e eu tinha que repetir. Foram 10 min que exigiram o máximo da minha concentração, pois ao mesmo tempo que eu não fazia ideia do que estava falando, do nada surgiam uns “ken-ga”, “mi-jo”, fora os vários “nu-ku”. Enfim, sobrevivi.
No total tudo durou uns 15 min, os caras realmente botam fé nesse esquema doutrinação a jato. Nada de dar uma questionada no teu cristianismo, uma massageada no teu Nietzsche, nananão, eles já chegam te dando um tapão de fogo, água e abismo. Beleza, tamo aqui pra isso. Finalmente, o monge falou (penso eu): “cabô fi, vc tá convertido, pode ir e pregar nossa palavra pro mundo”.
No fim das contas, acho que escolheram uma péssima pessoa pra espalhar a seita por aí. Realmente só aprendi o tal do “água, fogo, terra, ar, abismo”, e olhe lá.
Mas pelo menos os velhinhos ficaram super felizes. Me acompanharam até a saída, me deram uns biscoitos de blueberry e um chá verde, e um abraço de boa viagem. E eu voltei a ser um turista comum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário